Economia circular no Brasil: pesquisa mostra que minoria sabe o que é o modelo

A implementação da economia circular pode ser uma opção em prol da sustentabilidade no ambiente corporativo. No entanto, quão receptivo ao modelo os brasileiros estão? 

O Brasil é um dos maiores produtores de lixo eletrônico do mundo e o principal da América Latina. Esse tipo de resíduo é formado por computadores, eletrodomésticos, celulares, TVs e outros itens eletrônicos. Além de serem substâncias perigosas aos seres humanos, devido à sua composição com metais pesados, também podem causar danos ao meio ambiente por meio da contaminação de solos e lençóis freáticos.

Uma maneira de reduzir a geração de resíduos eletrônicos é a priorização da economia circular, um modelo focado no prolongamento do ciclo de vida dos produtos. Práticas como reciclagem, reparo e reutilização são a base do conceito. 

Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 76% das indústrias brasileiras já desenvolvem algum tipo de iniciativa de economia circular, sendo o uso de insumos circulares e a recuperação de recursos algumas dessas práticas. 

No entanto, muito além do contexto industrial e corporativo, qual é a percepção dos brasileiros acerca da economia circular e, especialmente, o quão importante é para eles que as empresas empreguem esse modelo? O GetApp entrevistou 1034 brasileiros para responder questões como essas, que podem ser relevantes para os negócios que pretendem ter um modelo mais sustentável –confira a metodologia completa no final do artigo.

Entendendo a economia circular

A economia circular é um modelo de desenvolvimento que prioriza o uso mais eficiente dos recursos para minimizar os impactos no meio ambiente. Estima-se que o modelo deva movimentar US$ 1 trilhão, em nível mundial, nos próximos anos. 

Pense em um celular cujo dono já o está colocando em desuso. No sistema da economia circular, esse aparelho retorna ao ciclo produtivo para que possa ser desmontado e otimizado e volte a um novo proprietário, dessa forma evitando desperdícios. Com esse consumo consciente, o impacto no meio ambiente é reduzido. 

Ou seja, na economia circular, os resíduos se tornam insumos para a produção de novos produtos, evitando a necessidade de mais extração de matérias-primas, já que elas são usadas até seu esgotamento. 

Essa postura colabora com a preservação e regeneração de recursos naturais, biomas e ecossistemas. Além disso, o objetivo da prática inclui ainda fazer com que o crescimento econômico seja dissociado do consumo de recursos finitos. 

Apenas 13% sabem o que é economia circular

A nova gestão governamental brasileira, dentro da reformulação do Ministério do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas (MMA), incluiu a economia circular como uma área a ser incentivada e estimulada. 

No entanto, mesmo com a incorporação de um tema tão atual à agenda nacional, o conhecimento da população sobre o modelo parece ser ainda muito incipiente no País. 

O GetApp mediu o conhecimento dos respondentes sobre economia circular e, após ler uma definição sobre o tema, apenas 13% dos participantes da pesquisa indicaram conhecer totalmente o conceito do modelo.

Em um recorte por região, é possível notar que o nível de conhecimento é semelhante. Os respondentes do Sul (15%) e Nordeste (14%) parecem ser os que mais sabem o que é economia circular. Isso se reduz no Sudeste, cujo percentual é de 13%, e no Norte, com 12%. Já os participantes do Centro-Oeste (11%) foram os que mais demonstraram desconhecer o que é esse modelo sustentável. 

Apesar de ser relativamente baixa a quantidade de pessoas que conhecem o conceito de economia circular, a essência de um sistema que promove o reuso de produtos e seus insumos parece ser uma ideia com que os respondentes estão em contato. Isso porque 40% dos entrevistados declararam que tinham noção do conceito, embora não soubessem que o termo empregado para defini-lo é "economia circular". Os negócios que pretendem se aventurar na sustentabilidade devem saber que o termo "economia circular" ainda não possui tanto reconhecimento no mercado.

Além das políticas públicas que podem promover o conhecimento sobre o tema, os negócios da iniciativa privada também podem ter um papel fundamental na disseminação da economia circular, especialmente por meio da conscientização de seus consumidores. 

Maioria prefere optar por empresas que aplicam princípios da economia circular

O estudo do GetApp destaca que, na hora de comprar, na dúvida entre uma empresa que investe em economia circular em comparação a uma que não investe, os respondentes ficariam com a primeira opção. 

Isso porque quase 9 de cada 10 (88%) entrevistados demonstrou concordar, em algum grau, com a afirmação "preferiria comprar produtos de uma empresa que aplica práticas da economia circular em comparação a uma que não o faz". 

Esse não é o único hábito de consumo em prol da economia circular exposto pelo levantamento: os respondentes também estão dispostos a parar de comprar de empresas que não levam em conta essa prática. Neste caso, 73% concordam em algum nível com a afirmação "eu pararia de comprar produtos de uma empresa se descobrisse que ela não faz nada para apoiar uma economia mais sustentável/circular".

A transparência em relação às medidas de sustentabilidade também é uma demanda dos participantes da pesquisa. 94% dos entrevistados concordam que "gostariam de obter mais informações e transparência sobre os esforços das marcas em relação ao seu envolvimento em medidas de sustentabilidade", sendo que 64% concordam totalmente com a afirmação e 31% concordam parcialmente.

Os resultados da pesquisa do GetApp apontam que os negócios devem considerar o investimento em sustentabilidade, já que as preferências atuais dos seus consumidores envolvem o cuidado com o meio ambiente. Além de implementar o modelo de economia circular, os negócios podem utilizar ferramentas como software de sustentabilidade para monitorar emissões e cumprir com metas de reciclagem.

Economia circular: os respondentes pagariam a mais?

Embora o preceito da economia circular recaia mais sobre reaproveitar, em vez de consumir ou pagar mais, é sabido que um dos impeditivos no investimento dos consumidores em produtos frutos de sustentabilidade, muitas vezes, recai no preço. Uma das justificativas é que, dependendo do material, o objeto pode demorar mais tempo para ser produzido e polido.

No entanto, há quem se mostre disposto a fazer concessões financeiras para adquirir produtos de produção sustentável. No estudo do GetApp, 79% dos entrevistados indicaram que estariam dispostos a pagar mais por um produto feito por meio de práticas da economia circular

 Das pessoas que se mostraram dispostas a pagar mais por esses produtos, a maioria (48%) gastaria entre 10% e 20% a mais para ter acesso a um produto criado por meio de práticas de economia circular.

Reaproveitamento de materiais: o mais importante para estimular a economia circular, segundo entrevistados

Diferentes práticas na produção de mercadorias podem ser eficientes para promover a economia circular e incentivar um ciclo produtivo mais amigável ao meio ambiente. Dados do GetApp indicam que, para os respondentes, o reaproveitamento de materiais no processo de produção é a prática mais admirável ou eficiente em prol da economia circular (74%). 

A redução do desperdício causado pelos métodos de produção (72%) bem como promover reciclagem de lixo (72%) são outras duas ações que mereceram destaque dos respondentes. 

Para as empresas, investir em uma economia circular também envolve garantir que os consumidores tenham acesso a informações pertinentes sobre as características de produtos que estão adquirindo, bem como as ações empregadas em prol do meio ambiente. 

Esse tipo de informações pode constar na embalagem de um produto, em que seja explicada a procedência das matérias-primas que o compõem, por exemplo. Outra maneira de reforçar as características de produção ou os valores da marca é dedicar uma página no site da empresa para destacar as ações de sustentabilidade –softwares para websites colaboram para que os usuários possam editar as páginas sempre que possível.

O investimento corporativo em economia circular é fruto de "greenwashing"? 

O termo greenwashing costuma ser empregado para denunciar o falso comprometimento de marcas com a causa sustentável. Nesses casos, as empresas podem utilizar uma comunicação com apelo ecológico de seus produtos ou serviços para obter ganhos de marketing ou vendas, mas sem realmente cumprir com os requisitos de sustentabilidade. 

No estudo do GetApp, entretanto, os respondentes foram questionados qual eles sentem que é a motivação das empresas para investir em economia circular, e os dados mostram o "greenwashing" apenas em terceiro lugar (41%) entre as sete opções apresentadas. 

Em primeiro lugar, os participantes crêem que se trata de uma estratégia de negócios, já que 48% opinaram que é uma maneira das empresas se diferenciarem de seus concorrentes. 

As pessoas também se mostraram otimistas com o investimento das empresas em economia circular, já que 43% veem esse passo como uma crença sincera na necessidade de implementar ações alinhadas com a prática.

Outro dado reforça a visão otimista dos participantes em relação ao investimento em sustentabilidade: 83% concordam com a afirmação que "se uma empresa afirma que está se esforçando para aplicar práticas sustentáveis em seus processos, eu acredito" –apesar disso, é importante destacar que 22% concordam totalmente com a afirmação, enquanto 61% concordam parcialmente com ela.

Práticas sustentáveis são necessárias

Na primeira parte do estudo do GetApp, os resultados sugerem que os respondentes brasileiros esperam que as empresas implementem práticas sustentáveis, além de estarem dispostos a deixar de consumir de uma marca se ela não se preocupa com o meio ambiente. No próximo estudo, analisaremos a disposição dos entrevistados em adquirir itens de segunda mão. 

Nesse contexto, é importante que os negócios se adaptem rapidamente à demanda dos consumidores e, além disso, saibam comunicar as práticas implementadas para poderem se associar a conceitos como a economia circular.