Ferramentas com base em inteligência artificial generativa têm adentrado o ambiente de trabalho no Brasil. Nesta pesquisa, entenda qual o panorama atual da tecnologia e o que os usuários pensam sobre ela.
Neste artigo
A inteligência artificial generativa, ou apenas IA generativa, é uma tecnologia capaz de criar conteúdo novo e inédito, como textos, imagens, áudios e códigos de programação, através de poucos comandos inseridos pelo usuário na própria interface do programa.
Pela capacidade de realizar esses feitos, a chegada da tecnologia no mercado de trabalho foi impactante. Primeiro porque ela representa um avanço tecnológico sem precedentes; segundo porque é esperado que a IA generativa impacte significativamente os postos de trabalho no mundo todo ao colocar milhares de empregos em risco, segundo as perspectivas mais pessimistas.
Enquanto por um lado ainda estamos criando suposições sobre o impacto da IA generativa, por outro empresas de diferentes portes e indústrias já implementam a tecnologia para auxiliar em tarefas do dia a dia.
Para melhor investigar a adoção dessa nova tecnologia no âmbito corporativo no Brasil, o GetApp entrevistou 479 funcionários de empresas de diferentes tamanhos e setores, que deveriam utilizar a IA generativa em seu trabalho pelo menos algumas vezes por mês. A metodologia completa está disponível no final do artigo.
Como funciona a IA generativa?
A IA generativa usa técnicas, como deep learning (conteúdo em inglês), para aprender a partir de uma grande base de dados já existentes.
Nessa etapa de aprendizado são usados textos, imagens e outros materiais que servem de base para posteriormente a IA gerar seu próprio conteúdo único e original. Embora ele possa ser semelhante ao conteúdo com que a tecnologia foi criada, o material não se repete. Isso quer dizer que se uma pessoa utilizar um mesmo comando em um programa de IA generativa, ela não receberá o mesmo resultado ou criação que outra pessoa.
A IA generativa tem potencial de modificar o mercado de trabalho justamente porque revoluciona a forma com que trabalhamos, podendo melhorar a eficiência e a produtividade nas empresas.
Um de cada quatro empregam a IA generativa todos os dias
O lançamento do ChatGPT, um chatbot baseado em IA generativa, que é capaz de responder diferentes perguntas dos usuários foi um divisor de águas. A partir desse momento, outros sistemas geradores de conteúdo –de imagens, por exemplo– também ganharam visibilidade e se tornaram uma opção de automação de tarefas nas empresas.
De acordo com o estudo do GetApp, 27% dos trabalhadores entrevistados disseram que utilizam a IA generativa todos os dias. Ainda assim, o maior percentual se concentra entre os que usam a tecnologia algumas vezes por semana (53%), apontando que ainda há espaço para o aumento da adoção.
No entanto, é importante destacar que, em cada setor de uma empresa, a IA generativa possui um efeito. Por exemplo, no marketing, a tecnologia é capaz de criar conteúdo em texto, como a descrição de produtos ou peças de e-mail marketing. Em TI, a ferramenta pode gerar códigos ou realizar sugestões a partir de uma função já criada.
Por isso é essencial que empreendedores notem lacunas no processo de produção para poder identificar possíveis locais de automação com sistemas de IA generativa.
Dica para empreendedores: a implementação da IA generativa
Ao decidir pela implementação da IA generativa, vale a pena começar com um projeto piloto em uma área específica para ver como funciona antes de implantá-la em toda a empresa. Dessa maneira é possível analisar a curva de aprendizado dos funcionários em relação à tecnologia, além de medir o impacto na produtividade. Esteja aberto para colher o feedback por meio de pesquisas de quem está na linha de frente na interação com a tecnologia.
Qual o principal material produzido nas empresas com uso da IA generativa?
Texto, imagem, vídeo ou código? O estudo do GetApp mostra que o principal uso da IA está relacionado à produção de conteúdo, já que criação de textos (54%) e edição de texto (50%) obtiveram os maiores percentuais entre os respondentes, conforme mostra o gráfico abaixo.
Quando se trata da criação de conteúdo por IA generativa, é necessário ter em mente que embora a tecnologia seja capaz de gerar material original, ainda é necessária a intervenção humana para corrigir possíveis erros e eliminar vieses garantindo que o conteúdo esteja em sintonia com as diretrizes da empresa.
Dica para empreendedores: o uso da IA generativa para criação de texto
Usar ferramentas como software de assistência de escrita por IA é uma mão na roda para a produção de texto, mas é necessário tomar algumas precauções para poder colher os melhores resultados. Aqui vão algumas dicas:
- Tenha em mente o tipo de conteúdo: quando for instruir o sistema, especifique o tipo de conteúdo que pretende receber –post para blog, roteiros, e-mail de comunicação interna, descrição de produtos, entre outros.
- Crie comandos claros: descreva o assunto, o tipo de linguagem e tom de voz que você está buscando, a audiência e, ainda, a quantidade de palavras que espera no seu texto.
- Uso de dados: se você solicitar que a IA inclua dados ou pesquisas, realize uma dupla checagem para garantir a veracidade do material recebido e se ele está atualizado.
- Teste a tecnologia: se não estiver satisfeito com o material sugerido pela IA, continue tentando inserir diferentes comandos, já que sempre há algum grau de variação nas respostas.
- Faça refinamentos no texto: a IA é capaz de gerar um texto de qualidade, mas em muitos casos ainda necessita que se realize uma edição para eliminar erros e tornar o texto mais conciso e coerente. Isso inclui também adaptar o material às diretrizes de SEO, se essa técnica fizer parte de sua estratégia.
- Cheque seu conteúdo: assim que tiver finalizada a produção, considere checar se seu artigo não é similar a outros materiais já publicados –lembre-se que a IA generativa é treinada usando conteúdos já existentes. Você pode usar um sistema de verificação de plágios a fim de realizar essa checagem.
Em 64% dos casos, uma parte significativa da empresa já usa IA generativa
A IA generativa já está disseminada nos corredores corporativos do Brasil. Isso porque quase dois terços (64%) dos funcionários entrevistados disseram que uma parte significativa de suas empresas usam IA generativa no trabalho.
A pesquisa mostra ainda que quase a totalidade dos entrevistados (96%) relataram que a empresa está ciente que eles utilizam ferramentas de IA generativa no trabalho, indicando que a adoção pode ter partido como uma própria escolha da companhia do que uma ação individual dos trabalhadores.
Outro ponto de destaque é que quase 9 em cada 10 (88%) empregados que estão abertamente usando IA generativa no trabalho monitoram de alguma maneira a qualidade do material produzido pela tecnologia. Existem diferentes maneiras de realizar essa checagem e minar a possibilidade de compartilhar informações errôneas ou até mesmo que possuam algum tipo de viés. Nos aprofundaremos no assunto em seguida.
Como monitorar a qualidade do conteúdo gerado por ferramentas de IA generativa
As empresas têm seguido diferentes protocolos na tentativa de manter a qualidade do material gerado a partir de ferramentas de IA generativa. Pensando nisso, o GetApp reuniu ações que podem ser tomadas para realizar essa checagem. Além disso, incluímos o percentual de empresas que já tomam cada uma dessas medidas citadas, segundo respostas dos funcionários que declararam estar abertamente usando IA generativa no trabalho.
Pesquisa com funcionários
O trabalhador é quem tem em mãos o resultado da criação das ferramentas de IA, portanto ele tem uma perspectiva única do material e pode julgar a precisão e relevância do que foi produzido. A pesquisa do GetApp mostra que 47% do grupo de entrevistados mencionado disseram que suas empresas realizam pesquisas de feedback.
Equipe dedicada
Outra ação possível é a criação de uma equipe dedicada para avaliar o material produzido pela IA –44% dos respondentes abertamente usam IA generativa no trabalho disseram que sua empresa realiza essa ação. Esse grupo pode ser multidisciplinar ou reunir apenas pessoas envolvidas na implementação da IA. Além de avaliar o material, essa equipe poderá identificar outras oportunidades de uso das ferramentas de IA no ambiente corporativo.
Monitoramento de KPIs
Para verificar a qualidade do material produzido pela IA, 36% dos respondentes do mesmo grupo indicaram que suas empresas monitoram KPIs. Esse tipo de ação é útil quando a empresa é capaz de definir o que pretende medir (por exemplo, a precisão do conteúdo), além de coletar e analisar dados para identificar o progresso.
Consultoria externa
O benefício de contratar uma consultoria externa, além da experiência na área, é poder contar com um time de especialistas que pode dar uma visão mais imparcial, com possibilidade de enxergar gargalos que quem está dentro da empresa não percebe. No estudo do GetApp, apenas 15% deste mesmo grupo citado anteriormente apontaram que sua empresa conta com esse tipo de auxílio.
Maioria implementou diretrizes para o uso de IA generativa
As diretrizes para uso de uma tecnologia tão crítica como a inteligência artificial generativa é parte importante do seu processo de implementação.
Especificamente com esse tipo de IA, os funcionários podem acabar alimentando a ferramenta com dados confidenciais da empresa –como registros de clientes ou informações financeiras. É comum que os fornecedores de sistemas de IA generativa usem as interações realizadas e as informações compartilhadas para aprimorar o sistema, que eventualmente criará outras respostas para usuários.
Outro alerta em relação à tecnologia de IA generativa está associado ao banco de dados usado no treinamento da ferramenta, que pode gerar materiais com algum tipo de conteúdo preconceituoso se ela não foi criada com temas de diversidade e equidade em pauta.
O estudo do GetApp mostra que pouco mais da metade das empresas no Brasil parece entender a complexidade da questão, já quase dois terços (64%) implementaram diretrizes para nortear o uso da tecnologia, de acordo com os respondentes cuja companhia está informada do uso de IA generativa.
Dos que relataram que a empresa já implementou regulamentos ou diretrizes, 75% disseram que a regulamentação foi criada para estabelecer o uso adequado de ferramentas de IA generativa aprovadas. Outras ações que dão um norte acerca da implementação de IA, foram:
- 58% disseram que as políticas de empresa foram estabelecidas para garantir que as ferramentas de IA generativa sejam usadas em conformidade com as leis e as regulamentações.
- 54% assinalaram que os funcionários têm de passar por treinamento sobre o uso adequado de ferramentas de IA generativa, bem como sobre privacidade de dados e considerações éticas.
Todos os respondentes foram questionados se acreditam que deveriam existir diretrizes para regular o uso de inteligência artificial generativa no espaço de trabalho. De certa forma, a maioria crê que sim; no entanto, 44% acreditam que deve haver diretrizes estritas, enquanto 52% creem que deve ter algum tipo de diretriz. Apenas 4% apontam que isso não seria uma necessidade.
O recomendado é que, antes de empregar qualquer tipo de ferramenta, as empresas possam testar esses sistemas e criar diretrizes para o seu uso. Muitas opções de ferramentas de inteligência artificial incluem versão teste de suas funcionalidades, o que permite avaliá-las antes de fechar um contrato de longo prazo.
Dica para empreendedores: a criação de diretrizes para a implementação da IA generativa
É recomendado que um guia que oriente o uso da IA generativa contenha diferentes informações sobre a tecnologia, como:
- explicações sobre o que é a IA generativa;
- como ela funciona;
- o que ela pode realizar;
- quais seus riscos e benefícios;
- quem pode usá-la e em que atividades;
- que dados compartilhar;
- dicas para conseguir tirar o melhor dela.
Além de realizar treinamentos sobre a implementação de diretrizes, faça o compartilhamento do material na base de conhecimento ou no intranet para que os funcionários possam acessá-lo rapidamente sempre que necessitarem.
87% receberam treinamento para uso de IA generativa; um terço relataram que necessitam de mais
Parte importante do funcionamento da inteligência artificial generativa é que o usuário seja capaz de dar um comando para a ferramenta, de forma que ela entregue o resultado esperado. No entanto, para isso acontecer, é necessário que o usuário seja o mais preciso possível em seu pedido. Se o usuário não entende a importância de um bom comando, pode ser que ele não esteja tirando o máximo proveito da tecnologia.
Esse cenário pode até não ser um grande problema para as empresas, já que a maioria das pessoas entrevistadas foi treinada no uso da IA generativa (87%).
Entretanto, quando desdobramos o percentual dos que receberam treinamento, metade (50%) acredita que teve suficiente treinamento, enquanto 37% embora tenha recebido treinamento, creem que necessitam de mais.
Os dados do GetApp sugerem que, embora as empresas tenham oferecido treinamentos eficientes, ainda há oportunidade para melhoria na capacitação sobre o uso correto da tecnologia de IA.
Destaques do estudo
A IA generativa, bem como os sistemas associados a ela, ainda é uma tecnologia emergente, o que exige que as empresas tenham atenção redobrada na sua implementação.
O estudo do GetApp identificou tendências do uso da IA generativa no contexto corporativo que podem servir de norte para a adoção da tecnologia. Os principais insights foram:
- A IA generativa já vem sendo empregada para auxiliar em tarefas laborais –um terço já a usa diariamente– e quase a totalidade das empresas já estão ciente deste uso, indicando que ele pode ter partido como uma iniciativa das próprias companhias.
- O monitoramento da qualidade do material criado é feito principalmente por meio de pesquisas de feedback com os funcionários, e em menor proporção por meio de consultorias externas.
- A maioria das empresas já possui diretrizes para orientar o uso da inteligência artificial generativa no ambiente de trabalho.
Metodologia
Os dados presentes neste estudo foram compilados a partir de um levantamento online realizado em junho de 2023, contando com a participação de 479 pessoas entre 18 e 65 anos, de todas as regiões do país.
Para participar, esses respondentes deveriam estar empregados em tempo integral, utilizar um computador de mesa ou laptop para realizar suas atividades no trabalho e usar a IA generativa pelo menos algumas vezes por mês.
Nota: As ferramentas citadas neste artigo servem de exemplos para mostrar uma característica neste contexto e não pretendem servir de endosso ou recomendação. Elas foram obtidas de fontes que se consideravam confiáveis no momento da publicação deste artigo.